Depois do artigo “E se o seu banco quebrar?“, vamos continuar na onda da quebradeira e tratar do tema “E se a corretora quebrar?”.
Bem, trocadilhos à parte, o fato é que já recebi essa dúvida em relação às corretoras de vários leitores. A turma se pergunta se investir por corretoras é mesmo seguro pois tem medo da quebradeira.
Por isso, decidimos passar a resposta, tin tin por tin tin, num artigo completo e, ao mesmo tempo, direto ao ponto.
Pra exemplificar, seguem as dúvidas ipsis litteris (tô treinando meu latim) de dois leitores:
“O Tesouro Direto eu sei que é seguro. Mas você investir através de uma corretora não pode ser arriscado? Tipo a corretora falir.” Enviada por Romero.
(ele sabia que o Tesouro Direto era seguro por que leu esse artigo aqui)
“Se a corretora falir… O dinheiro fica preso no Tesouro Direto sem acesso?” Enviada por Nara.
Bem, essas perguntas específicas rodearem o tema Tesouro Direto, mas esquece isso e vamos focar na pauta: “E se a corretora quebrar?”
Pra ser um pouco socrático na resposta e colocar a cuca aí pra funcionar, tente me responder:
“Se teu corretor de seguros falir, o que acontece com o seguro do teu carro que você contratou através dele?”
“Se teu corretor de imóveis quebrar, o que acontece com o imóvel que você comprou através dele?”
Corretagem é corretagem e corretora é corretora
Eureka!
Corretagem é sempre corretagem.
Lembre-se: ao investir através de corretoras, você está investindo através de uma “Corretora de Títulos e Valores Mobiliários”.
Você não tá investindo nela, você tá investindo através dela.
A CVM – Comissão de Valores Mobiliários define assim as Corretoras e Distribuidoras:
“São instituições financeiras que tem como atividade principal ou acessória à intermediação de operações nos mercados regulamentados de valores mobiliários, como é o caso dos mercados de bolsa e de balcão (organizado ou não).
Esse serviço consiste na execução de ordens de compra e de venda de valores mobiliários para seus clientes, mas também podem se incluir, entre as atividades por elas oferecidas:
– disponibilização de informações de análise de investimentos;
– administração de carteiras de valores mobiliários (inclusive fundos de investimentos); e
– prestação de serviços de custódia e outras (algumas dessas atividades dependem de autorizações específicas).”
Em suma, uma corretora de valores exerce praticamente o mesmo tipo corretagem de qualquer outro tipo de corretor ou de corretora. Então, vamos lá…
-> Se o seu corretor de seguros falir, você continua com o seguro do carro, né.
-> Se o seu corretor de imóvel falir, você também continua com o seu imóvel.
O corretor de imóveis, o corretor de seguro, ou a corretora que estamos falando são iguais: são “meros” atravessadores e facilitadores. A diferença é que, no caso de seguros ou imóveis, você pode eliminar o atravessador e ir direto na fonte. Mas, no caso dos seus investimentos, isso nem sempre é possível.
Você pode, por exemplo, bater na porta de um banco, abrir uma conta, e começar a comprar CDBs, LCIs e LCAs daquele banco (talvez você até já faça isso) sem a necessidade de intermediação de uma corretora. MAS, você não pode, por exemplo, bater na porta da Secretaria do Tesouro Nacional e pedir pra comprar títulos da dívida pública federal. Ou, não dá pra bater na porta de uma empresa de capital aberto dizendo que quer comprar ações e virar sócio da empresa. Nesses dois casos citados, e em vários outros, você precisa de uma corretora de valores para intermediar a operação. Essa pode ser a dita “corretora independente” ou a “corretora do banco”.
A Corretora Quebrou – O que Acontece Com Nossos Investimentos
No caso do Tesouro Direto, você tá emprestando dinheiro pro governo. Então o seu risco é de o governo quebrar e não a corretora. Esse risco é bem pequeno e já foi esclarecido aqui.
Isso vale pra qualquer investimento através de corretora, viu? Se tu tá comprando ações ou debêntures, por exemplo, seu risco está na empresa em que você tá investindo ou emprestando dinheiro. Se a compra é de CDB, LCI ou LCA o risco está no banco emissor. E por aí vai.
Caso tesouro…
Pois bem, o registro dos títulos públicos do Tesouro Direto fica no seu CPF. Então se a corretora falir você terá que informar outro agente de custódia pra fazer essa intermediação por você.
Lembrando que os investimentos de Renda Fixa, como os realizados via Tesouro Direto, funcionam como um empréstimo (saiba mais clicando aqui). Nesse caso do tesouro, você empresta sua grana para o governo e recebe em troca um papel (que é eletrônico e chamado de título público) que ficará guardado e registrado em determinado local.
“E que local de guarda e registro é esse?”
Imagine que há mais de 100 anos atrás todo mundo tinha que guardar esses papéis (títulos de renda fixa, títulos públicos ou mesmo ações) em casa, fisicamente mesmo. O papel (que é o que garante que você realizou tal operação) era físico e podia simplesmente se perder, ser rasgado, queimado ou ser objeto de brigas judiciais sobre a sua veracidade e/ou propriedade. Por isso, existem há algumas dezenas de anos os locais onde são registradas as operações de valores, realizadas as liquidações (fluxo de dinheiro entre as partes) e onde os papeis são guardados (custodiados).
Ei!!! A explicação do parágrafo acima é uma historinha que inventei pra facilitar o entendimento, viu? Não use isso em provas da faculdade ou em concursos públicos.
Seguindo nosso raciocínio… No caso das nossas operações via Tesouro Direto, esse local de registro é a CBLC – Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, que é um departamento da BM&FBovespa.
É lá na CBLC (dentro da BM&FBovespa) onde o título público comprado está devidamente vinculado ao seu nome e ao seu CPF.
No setor privado, ou seja, nas transações com bancos, empresas, ou financeiras, também funciona dessa forma.
Assim, quando você investe em CDB, LCA, LCI, LC ou debêntures, estes títulos também ficam guardados e registrados, em seu nome e no seu CPF, em uma entidade. Nestes casos, em geral, é na CETIP – Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos.
Já as ações, também ficam registradas na CBLC da BM&FBovespa (hoje, na verdade, na chamada Câmara de Ações da BM&FBovespa). Antigamente eu recebia mensalmente um caderninho da CBLC contendo meu extrato e movimentações do período. Mas o caderno parou de chegar faz algum tempo.
Enfim, quando você investe através de uma corretora, automaticamente você também fica com uma continha em seu CPF na CBLC, BM&FBovespa e/ou na CETIP. É esse registro lá o que importa para quando (e se) sua corretora quebrar. Quebrando, bastará informar outra corretora pra ser sua intermediária.
O saldo (a grana parada) na conta da corretora
“Para o dinheiro que está aplicado ficou claro. Mas e para a grana parada na conta da corretora?” Aí sim, camarada…
É, se a corretora quebrar, imagino que o único perrengue será em resgatar a grana que você deixar parada na conta corrente dela (o seu saldo lá).
Seu saldo na corretora, ao contrário do saldo num banco, não é garantido pelo FGC – Fundo Garantidor de Créditos. Saiba aqui o que é garantido pelo FGC.
Nesse caso, você teria que recorrer ao Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos (MRP) da BM&FBOVESPA.
O MRP da BM&FBOVESPA assegura aos investidores o ressarcimento de até R$ 120 mil por prejuízos decorrentes de intervenção ou liquidação extrajudicial da instituição.
“De acordo com o inciso V, do artigo 77, da Instrução Normativa nº 461/07 da Comissão de Valores Mobiliários (“ICVM 461/07”), a decretação de liquidação extrajudicial, pelo Banco Central do Brasil, de instituição participante de mercado de bolsa constitui hipótese para que seus clientes pleiteiem, junto ao Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos (“MRP”), o ressarcimento dos prejuízos causados por essa liquidação.” Fonte: BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados (BSM)
Ao contrário do FGC – Fundo Garantidor de Créditos, eu nunca tive nenhuma experiência com o MRP – Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos. Então minha dica seria: não deixe muito dinheiro parado na conta da corretora. Afinal, você também estará deixando sua grana ser corroída pela inflação. MAS…
A dica essencial mesmo é: deixa de nóia, esquece essa parada de se a corretora quebrar. Esse risco é irrisório.
Se mesmo assim você é daqueles que adora um alerta, o Portal InfoMoney preparou um material específico para os casos em que o MRP não cobriria sua grana. O contexto geral já foi contado aqui, mas se quiser entender esses casos específicos, basta ler a matéria clicando aqui.
O Risco de Uma Corretora Quebrar
É seguro investir através de corretoras? SIM! É seguro!
São raríssimos os casos de corretoras que quebraram. Ao contrário de bancos, onde há vários casos (você pode relembrar os casos clicando aqui).
Ou seja, o risco de quebrar é muito pequeno principalmente se você optar por algumas das corretoras mais conhecidas. Há várias por aí.
Pra escolher uma corretora “segura”, indico sempre para que as pessoas confiram esse ranking aqui (no caso do Tesouro Direto) combinando com a consulta aos dados da saúde financeira da empresa nessa página aqui (para qualquer caso). AH, e não deixe de fazer uma pesquisa com amigos e familiares sobre as corretoras que eles utilizam. Ver opiniões no Google também é uma boa.
Bem, pra ter uma ideia da percepção coletiva (senso geral da gente) entre banco e corretoras… consultei o BancoData aqui e, no dia que escrevi esse artigo, o prejuízo do Banco HSBC por exemplo (já citei esse caso algumas vezes) era o maior de todos. Sei que a análise é muito, muito, muito simplória, mas dificilmente alguém teria dúvidas em abrir conta no HSBC ou investir num produto de lá. Já quando o assunto é corretora…
Medo!
Porque utilizar uma corretora
Gosto de deixar em aberto a possibilidade de utilizar os bancos (as corretoras dos bancos). Mas o fato é que se você realmente quer ter acesso às melhores taxas e melhores opções de investimentos, não tem jeito: tem que ir numa corretora.
Por quê? Pra esclarecer isso ao meu amigo Gabriel Advíncula, que é corretor de seguros, utilizei o seguinte argumento…
“As corretoras apresentam diversas opções de investimentos que não podem ser apresentadas pelos bancos. Afinal, os bancos só vão apresentar os produtos dos próprios bancos, e não de seus concorrentes.
É como o teu trabalho (bem parecido). Você é corretor de seguros, então tu tem a possibilidade de apresentar o melhor produto pra seus clientes pois, além de conhecer o mercado, tu tem acesso a várias seguradoras, “bastando” compará-las e passar as melhores opções pro cliente. Agora se eu for direto numa seguradora (e não num corretor), ela vai me passar as opções de seguro apenas da própria seguradora.“
Ou seja, numa corretora você terá acesso aos produtos de vários bancos diferentes, de várias empresas, e de várias instituições financeiras. Assim você pode comparar as rentabilidades e escolher a melhor opção pra você.
AH! E sabe como elas ganham dinheiro? Muito simples! Elas sobrevivem cobrando taxas sobre as suas operações.
Se quiser, veja alguns exemplos de taxas e tarifas aqui:
– Taxas de Administração para o Tesouro Direto
– Taxas da Corretora Easynvest
Conclusão
Quando você compra algum ativo você não tá investindo na corretora, você está investindo em instituições. Então o seu risco está na instituição quebrar.
A corretora é uma “mera” intermediária/atravessadora. Assim como uma corretora de seguros ou corretora de imóveis.
Ou seja, caso ela quebre, você deverá escolher uma nova corretora e os seus investimentos terão a custódia transferida.
Quer melhorar teus investimentos e ainda tá com medo de abrir conta em corretora? Simples: vai com medo mesmo.
Compartilhe este artigo e ajude outras pessoas a dar esse importante passo, mesmo com medinho.
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